domingo, maio 27, 2007

Anotações - Bananada 2007 - A noite de sexta-feira!


Há quase dez anos Fabrício Nobre dava voz e bananas a todos, ainda sem os pares da Monstro e provavelmente não imaginava que o Bananada chegasse à estatura que chegou. Não exatamente em grandeza, mas em maturidade. O festival sabe o que quer e atingiu um patamar de organização e profissionalismo que promove a inserção da música independente nas lacunas da grande cultura. Parece interessante a capacidade de receber o público antes acostumado a “festas na roça que é pra lá de bão” (Leandro e Leonardo), com promoção do governo, dos donos dos currais e do espírito goiano. Para que o Bananada tivesse essa envergadura o caminho não foi fácil. Depois da reunião entre os quatros responsáveis pela Monstro, a estratégia de tomada de espaço contou com o avanço da proposta rock city às esferas antes só de alguns. Com isso não só o secretário de cultura aparece nas festanças do rock goiano, como as louras oxigenadas (pra reforçar o estereótipo – rs) também. Isso não nos vale como bom ou ruim. É assim. E é a proposta ganhar terreno. Foi assim que os festivais da Monstro conseguiram ter o melhor som, a melhor estrutura do rock em Goiânia e ser referência no Brasil. Não é festival de playboy (mais estereótipo), mas playboys não faltam. Ele ainda continua rock, possibilita uma potência alternativa bastante interessante e certamente é isso que o fará sempre forte e com espaço garantido.

O fato de ter estilo pra todo mundo é uma maneira incontestável de abrigar a maior variedade de vozes rockers possíveis. Mas se engana quem acredita sentir a pulsão da molecada que produz o rock em todo canto do Bananada; isso se vê em menor escala e depende de um show fuderoso pra realizar seu ápice. Como um Mqn, Mechanics ou mesmo Violins. Portanto, nesse balaio aparece muito pastiche. E nós não queremos viver deles.

Começar a noite com Diego Moraes é uma boa resposta ao estigma de fechado que quiseram dar a Monstro. Diego é bom no que faz, e o que ele faz tem menos a ver com rock star e mais a ver com surrealismos-brazucas-infanto-miseráveis! O show foi bem jeitoso! Com variações que são medidas na idéia mesma de espetáculo. Diego contou com uma banda pra lá de competente, com um cabelo beatle, um engajamento politizado e não longe de clichês (é possível ser diferente disso? – uma pergunta eterna). Foi dançante, um baixo seven saturadão, e ele repete, na tônica do discurso “Não se irrite com meu hit!”. Ele quer aloprar e alopra!

Da caixa dos excluídos pra caixa dos inseridos! Vai lá Goldfish Memories! Depois da plebe os playbas! E nesse rumo o festival dá conta mesmo do que se propõe. Entramos na seara do que se consome sem dificuldades. E o nome da banda já diz tudo. Pra dizer a verdade, acho dispensável ver o show deles, mas admito, é um stoner inteligente, muito bem executado, redondíssimo. O batera toca muito, bate com gosto! Eles estão angariando reconhecimento – isso diz de um aspecto relevante, mas não do principal. Tem uns efeitos legais, simplórios e bem empregados. O que parece besta na banda é uma necessidade constante de ser aceita. Reforçada em cada gesto e em muitos acordes. Tá tudo legal, sem problemas.

Um cervejinha e vamos ver o Watson de Brasília. Lulu Santos no Bananada!? É quase bonitinho o pop desses brasilienses bem apessoados. Letras fáceis, vocal ruim, óbvio. Isso também tem seu valor, mas na boa... melhor se fosse cover. O acerto dessa banda é o baixo fisicamente bonito, chama atenção. Só.

BH tem bandas legais. O Monno é legal, mas é mono! Impecavelmente indie. Muito competente, o vocal é bem agradável e sem deslizes. O som tava reguladíssimo, uma olhada pra trás e percebi que o Iuri tava lá. Mais um ponto pra banda. Da tradição Valv, Monno é honesto. Mas é tão indie que o oclin, a camisa e as letras lamuriosas não escondem a pecha. Respeito, mas chora menos, porque o Violins já fez isso e hoje tá em outra e melhor.

Nunca acreditei nas bandas do Guga! Mas vô falar: Sangue Seco é massa! É do mal! Direto e tem coisas pra dizer, a partir das cenas dessa maldição, dos limites que querem transparecer. Eles são posudos e fazem um punk pra dizer das suas velharias e traumas. O vocal do senhor Mesquita é respeitoso, e eu, sinceramente, não acreditava. Ele canta que nem um demente e faz teatro-rock-discursivo-fodão! Achei bem digno. E o batera é notoriamente um principiante. Depois do show eu disse pro Guga que eles faziam só o que o Bocão dava conta, ele confirmou. Depende até onde ele vai, sacô!? A guitarra é cretina, finge que é mais do que é, isso é bom!

Esse negócio de ser repórter por um dia cansa! E vamô lá ver o Del-O-Max. Os paulistanos fazem um som pouco deglutível. Dois baixos, muito pedal neles. Precisara de mais que 30 minutos pra saber mesmo de qual é.

Os simpáticos componentes da Dimitri Pellz passaram antes na banca do Demo Cognítio com a Voodoo (que tava um sucesso com os feirantes Eliseu e Gabriela), deixaram um zine bem bonito e simples e falaram umas coisinhas da cena mato-grossense. Ao entrar no teatro, de cara achei que era um Wry do centro do Brasil em festa. Por conta da androginia do batera e da vocalista, que faziam bastante barulho comportado, tendo ao lado um tecladista setentista, destoante.

Nunca vi o Barfly no palco. Continuo sem ver. Nessa hora tomava uma cerveja e papeava feliz com o melhor papo da noite – Pierre, do Violins.

Chegou o fotógrafo ofcial do Demo Cognítio: Benedito Braga! Era vez da Super Hi-Fi, os cariocas não me agradaram de cara. E fui desfazendo essa primeira impressão. Talvez porque eu não ache Matanza coisa que preste. Hi-Fi é grosso que nem Matanza, mas não precisa fazer tipo. Fui me surpreendendo, bases bem graves e marcadas, mulheres e chapação nas letras, sermão de drogado. A partir de Iron Man do Sabbath mostram um funk pra lá de carioca, vestido de rockão brabo. Ponto pra festa!

Devotos é fulminante. Rápido e potente, vocalista dread, feio que nem o Cartola, mistura de reggae e hardcore, engajado e direto numa cantata nordestina. Não gosto. Mas vô dizer: tem lugar em qualquer barulho que esse país puder fazer, está a serviço de um lugar de vida, e, não por isso simplesmente, mas pela rispidez discursiva assumida – mensagem musical.

Tem referências que são notórias. As do Coletivo Rádio Cipó estão assentadas no nordestismos, no mangue, no falado repentista. O batera é preciso e o vocal não esquece de Chico Science, e faz isso de megafone. O lance é o veiiin que dá o charme da banda; muito válido, mas a banda mesmo é normalzinha. Sem mais.

As outras vezes que vi o Shakemakers valeu mais a pena. No Noise do jóquei foi dos melhó, de impressionar! Agora como donos da noite tava meio desfigurado, com jogo ganho. Faltou luta. Força. É aquela veia Chuck Berry com Guns, numa cafajestice oitentista, liderada com responsa pelo Sandoval. Essas bandas precisam de potência, eu achei meio brocha.

Sempre expectativa em torno da Violins. É uma banda corajosa, muda de pele sem medo. Por isso todo mundo ficou curioso, sem contar algumas tietes de sempre. O show foi na cara. Desavergonhado. Nos últimos shows da banda o Beto tinha desafinado muito, isso me incomodava. Nesse não teve nada disso, a não ser num pequeno momento de Grupo de extermínio, ele e a banda toda tava muito segura, dona do palco, desfilando as novas músicas. Sinto menos falta da guitarra do Léo, o teclado assume momentos de beleza e estranhice bem dignas do novo som da banda, vide um solo do Pedro em batedor de carteira, dos mais bonitos. O baixo do Thiaguin é tora! Presençona! Certa hora o Smoth aperece do meu lado com cara de irmão babão, orgulhoso. O Thiago foi contaminado pela presença de palco da banda, mexe menos. Mas isso nem é problema. Porque essa banda é simplesmente a que mais produz em Goiânia, possivelmente no Brasil, e com uma qualidade e sentido nada desproposital. Pierre toca com um sorriso imenso na cara, bom de ver. Teve até primeira fase, com perfume em nova versão e timbres melhorados. As melhores letras de Goiânia e farão mais, pra divertir, porque desistiram do estrelato.

E chega o fim da noite! Tensão, horror, anunciação do inferno, repetição, histórias, bêbados, secretários do capeta, em nome da desgraça! Mechanics tem muita areia no caminhão e vai entregando aos poucos. Faz cena, marca o palco na definição reta gritada da guitarra. Ver o show do Mechanics é sentir a vontade de abrir as portas, mas chaves não existem. Eu demorei pra respeitar musicalmente essa banda. E depende de disposição pra isso. O Jaime imprime uma batera que dita o suspense, espalhando raiva acalmada. Márcio Jr. sussurra, o público sabe que tá diante da história do rock da cidade, mas não se acaba, porque o Mechanics quer suspender, e isso, às vezes, pode ser um problema. “A minha alma cheia de sangue / a minha pica cheia de sangue (...) A minha alma cheia de sangue, a minha pica cheia de sangue!”. No sábado o Mqn arreganha o inferno cujas chaves o Mechanics esconde e o João Lucas dançava, como um puta tiete que sabe a quem deve (e isso é um elogio a ambos). O Nobre diz banhado de cerveja e luz vermelha: “Vocês ainda vão agradecer ao Márcio Jr. por tudo isso!”

Isso vai parar onde!? Essa resposta é por nossa conta!


texto: marcelo brice (um artista fracassado)

fotos: benedito braga e suene honorato

6 Comentários:

Às 28/5/07 09:43 , Anonymous Anônimo disse...

gostei do texto e achei muito valida a opiniao, espero merecer mais! ROCK SEMPRE!

 
Às 28/5/07 11:47 , Blogger Eduardo Mesquita disse...

A melhor resenha que vi até agora sobre a sexta do Bananildo. Se eu pudesse deletava as minhas. Marcelo, tu só é fracassado em Pasárgada, por causa do filhadaputa do rei.
Muito bom, muito bom mesmo!
Grato pela generosidade e pela franqueza dispensados ao SANGUE SECO.

Há braços!

Eduardo Mesquita, O Inimigo do re

 
Às 28/5/07 15:02 , Blogger `´é`´ disse...

eu não tava lá, mas me parece muito autêntico e sincero, quanto a não ver o barfly por conta de uma boa conversinha, ai já não da neh, cadê o profissionalismo porra, hehehe


=)

 
Às 28/5/07 20:38 , Blogger Unknown disse...

valeu mesquita e os outros pelas considerações! quanto a apagar as suas... sou contra! cê é o resenhista mais produtivo da gyn city, pô! e éveri... só vc poderia avacalhar o profissionalismo. rs

 
Às 28/5/07 21:38 , Anonymous Anônimo disse...

"quanto a não ver o barfly por conta de uma boa conversinha, ai já não da neh, cadê o profissionalismo porra..."
.
Concordo, oras!
Corajoso o texto, brice. Verdade!
Não fui mas deu pra sentir que valeu a pena! Ah! Sobre as loiras oxigenadas... ah, deixa ser livre, vai, faz tempo que o martim não abriga só os 'yeah, love rock'n roll'!

 
Às 10/6/07 19:31 , Blogger Unknown disse...

Brice, obrigado pela dica! Achei os comentários oportunos e corajosos e o final foi tipo: grande final! Faltou falar do público, embora entenda que as suas percepções pretendem ser ao mesmo tempo do público ou de um público que reage criticamente! Um grande abraço! F. Rabelo

 

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