quarta-feira, maio 23, 2007

Bananada 2007 – Noite de Sábado


O Martin Cererê abrigou mais uma vez a cena rock de Goiânia. Parece que o cenário casa bem com o evento, que lá tem fincado suas raízes há quase 10 anos, à exceção das primeiríssimas edições; enquanto isso, o Goiânia Noise – também produzido pela Monstro Discos – experimenta outros locais a fim de comportar o grande número de curiosos que erguem suas orelhinhas ao fenômeno local.

Seria mesmo a Pecuária um rival em público? Sabe-se que a Bananada surgiu com a finalidade de se contrapor ao propagado ruralismo da nossa capital e, juntamente com outras manifestações da cena independente, conseguiu, finalmente, ofuscar o clangor dos guizos. Hoje, no arquétipo coletivo da goianidade, compartilhamos a vaquinha e a guitarra. Durante os shows das bandas de outros Estados, que fizeram sua primeira apresentação nos nossos palcos, não raro ouvimos manifestações como: “A gente ouve dizer que vocês são foda, e são mesmo! Tocar aqui é do caralho!”. Já os goianos fazem questão de dar vivas a tais expressões, e não perdem a oportunidade de reforçá-las, como o fez (e o faz sempre) Fabrício Nobre, durante o show de sua banda “MQN” (foto), ao dizer que os portugas do “Born a Lion” deveriam ter finalizado, e não estreado, a sua turnê por aqui.

Os dois eventos produzidos anualmente pela Monstro mantêm com a cena independente de Goiânia uma relação de comensalismo: alimentam e são alimentados por ela. E em todo fenômeno que pulula e fervilha, é difícil distinguir o “novo” do “mais do mesmo”. Não que isso seja, necessariamente, um problema, mas não deixa de ser um fato. As bandas se repetem, se repetem... E muitas delas têm sua origem mesmo na sensação que se experimenta ao freqüentar os festivais. Saindo de um show, ouvi dois garotos comentarem: “Nossa, isso me dá fissura de produzir um som!”. Essa poderia ser a crônica originária de muitas de nossas bandas. Algumas teriam levado tão a sério a tal “fissura de produzir um som” que ficaram vagando em torno de uma finalidade imprecisa, até cair de vez na inutilidade e se desintegrarem.

Se a prodigalidade da cena é louvável, ela também tem seus desperdícios: muitas bandas carecem de projeto. Essa exigência está fundada na busca de sentido para as manifestações culturais e artísticas, que se justificam não em si mesmas, mas enquanto inserção na realidade. Sem ela, corre-se o risco de perpetuar a condenável perecibilidade dos produtos que a grande indústria fonográfica manipula, em acordo com os modismos do mercado. E não creio que seja muito exigir que a cena independente não perca de vista os motivos pelos quais surgiu. Seu objetivo é dar voz àqueles para os quais a grande mídia não volta seus holofotes, mas que têm, sim, desejo de se expressarem. Portanto, esse desejo só se justifica se for o mais autoral possível – e não necessariamente original.

De fato, originalidade não é a questão, porque nossa condição histórica não o permite... (e isso é assunto para mais tarde). A autoria talvez seja apenas uma forma de apresentação que diferencie o genuíno do plágio. Mas, às vistas de um evento em que se degusta mais de 10 bandas por noite, é possível visualizar, com certa imprecisão e parcialidade, somente uma parte dessa questão. Assimila-se o que, à primeira vista, se destaca. O resto será engolido pela distância no tempo.

Nem sempre a lembrança será regulada pelo prazer, e sim pelo seu oposto. “Chapéu, cervejas e frustrações”, primeira apresentação da noite de sábado, não esconde o seu propósito. O protagonista Pablo Kossa, figurinha carimbada na cena, veio mesmo para incomodar: chapéu e botas country, correntinha e apito pendurados ao cós da calça, pochette e óculos ray ban, dizendo “eu sou mais rock’n roll que você”. Não contente com o protesto, ensaiou uma batucada no bar Karuá e a Bananada anti-pecuária abrigou o protesto anti-rock.

Outras vezes a lembrança é ditada pelo público. Há dois anos a proposta da Bananada é trazer como atrações principais três bandas goianas para fecharem as noites. Mas entre os infernais “Born a Lion” e os goianos do “MQN”, que botaram o Martin abaixo, o teatro ficou relativamente vazio no show dos “Trissônicos”. Talvez a proposta seja se contrapor à chave de ouro parnasiana, que figura em uma de suas letras – bem compostas, diga-se de passagem: “Parnasiana de corpo e alma / Viola-me dizendo ‘sim!’ / E se pedes minha caneta / Tu escreverias ‘fim!’”.

Já os festejados mineiros do “Udora” me parecem prontinhos para ser engolidos pela indústria fonográfica: letrinhas de amor pouco elaboradas e refrões bem marcados (“Por que não tentar de novo? / Já não tenho nada a perder”). “Mezatrio” (foto), no entanto, nos faria um bem imenso se fosse tragada pelo consumo: lá do Amazonas pudemos deliciar música bem feita e inteligente, cuja “lembrança venturosa” de “Los Hermanos” – como sintetizou meu amigo Guga Valente – em nada compromete a relevância da banda, que depois de três anos de formação já procura, com êxito, novos caminhos e experimentalismos.

No mais, a “Valentina” vai indo... sobrevivendo com uma breve melhora do vocalista Rodrigo Feoli, que começa a administrar suas limitações vocais, caminho que o “Violins” já aprendeu.

E a Bananada é mesmo uma vitrine do rock! Trampolim para o circuito alternativo nacional. Dentre outros motivos, porque conta com uma aparelhagem e técnicos de som invejáveis. Sabendo que os menores ruídos serão ouvidos, os músicos capricham na apresentação. Se for ruim, será péssimo. Daí muitas bandas poderem ser lembradas pelo “redondismo” de seu som, como “The Envy Hearts”, nossos conterrâneos, e “2 Fuzz”, do Ceará.


texto: suene honorato

fotos: marcelo brice e éveri sirac

14 Comentários:

Às 23/5/07 16:30 , Blogger `´é`´ disse...

vaquinha e guitarra. =)

 
Às 24/5/07 11:14 , Blogger Unknown disse...

é herança venturosa, suene, herança venturosa, ahhaauhauhaihai... mas lembrança perdurosa funcionou muitíssimo bem!

 
Às 24/5/07 11:59 , Anonymous Anônimo disse...

kkkk

guga, o som tava alto aquela hora! rs.

 
Às 24/5/07 17:35 , Anonymous Anônimo disse...

gugamigo,

está consertado!

beijo pra vc.

 
Às 24/5/07 21:56 , Blogger Unknown disse...

depois que faz a poesia quer consertar? ã? qual poesia? a de ouvir num som alto algo que eu não disse e transformar isso num comentário proveitoso e.... SEU! kkkkkkk
enfim, as duas formas são boas, boas.

 
Às 27/5/07 20:48 , Blogger Maria Clara Dunck disse...

"Não contente com o protesto, ensaiou uma batucada no bar Karuá e a Bananada anti-pecuária abrigou o protesto anti-rock."

Pode parecer óbvio a primeira vista, mas foi um comentário perspicaz.

 
Às 27/5/07 21:18 , Anonymous Anônimo disse...

pelo menos tua assinatura é digna de ti, pois as anotações não foram dignas de um festival o bananada. não sabes de música, só finges saber.

 
Às 27/5/07 23:09 , Blogger Unknown disse...

rodrigo, reformula aí. não deu pra entender não. rs

 
Às 28/5/07 11:21 , Blogger Rodrigo Melo disse...

Rodrigos são indecentes, vão por mim.

 
Às 28/5/07 12:56 , Blogger Matheus Araujo disse...

cara, sinceramente, seu comentário sobre o Udora foi digno de quem não escutou porra nenhuma da nova fase deles, "letrinhas de amor"??? cara, recomendo escutar primeiro, pra depois falar mal....

 
Às 29/5/07 19:21 , Blogger Unknown disse...

tá, vai, não são só letrinhas de amor. tem auto-ajuda também:

Perdas e danos
Desfazem planos
Marcam as veias
É tarde pra arrepender

(A volta dos que não foram)

 
Às 30/5/07 14:23 , Anonymous Anônimo disse...

hihihihi, =)

 
Às 13/6/07 14:18 , Anonymous Anônimo disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

 
Às 14/6/07 12:16 , Blogger Casa do Demo disse...

srta. mari,

não sei quem vc é, mas insiste em agressões pessoais. e sim, vamos apagar comentários q não se refiram ao texto. afinal, parece q há um engano da sua parte qto ao entendimento da expressão "comentário ao texto". observe bem q não vetamos aqueles q, interessados em discutir idéias, nos contradizem. pelo contrário: o blog do demo cognítio foi criado como um espaço para se debater idéias. e é isso q esperamos.


boa sorte nas suas próximas tentativas!

 

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