domingo, março 30, 2008

João Victor: um menino bem humorado e inteligente

Já estava mais do que na hora: dia 03 de março, em Goiânia, um garoto de apenas oito anos foi aprovado no vestibular da UNIP para o curso de Direito.

A notícia provocou grande alvoroço na imprensa, e foi destaque em jornais do Brasil e do mundo. Mas ela não tem nada de tão singular. Teria, se se tratasse de um garoto superdotado, alvo de psicólogos que desejariam esquadrinhar o seu cérebro e já convidado a ingressar não na UNIP, mas na Universidade de Harvard. Nada disso ocorreu, no entanto... O fato é banal, ou melhor, fruto da banalidade de uma prática que implica em diversas questões.

As universidades particulares aprenderam que hoje é preciso ter diploma. Exige-se uma especialização crescente para os mais diversos campos profissionais. Há muito desemprego e pouca gente qualificada. Opta-se, então, pela qualificação em massa – desde que se possa pagar, é claro. Mas essa qualificação merece algumas aspas. O termo “qualificação” está relacionado, obviamente, à qualidade, e não à quantidade. A “qualificação” oferecida por algumas dessas instituições tem, muitas vezes, caráter formal, burocrático – e o governo devia agradecer a elas por melhorar os índices quantitativos em relação à escolaridade do povo brasileiro.

Hoje não encontramos diplomas emoldurados na parede do consultório. Esse fato é sintomático, indica que nada há de especial em ter um diploma. E muito bom seria se, com isso, pudéssemos acreditar que a formação tem sido levada tão a sério, tanto pelos estudantes quanto pelas instituições de ensino.

O imperativo de se ter um diploma inflou o mercado das universidades particulares, já que as instituições públicas não satisfazem a demanda. (Não só não satisfazem, como exigem uma formação anterior que a maioria dos candidatos a uma vaga não possuem – e esse é um outro problema, com suas causas diversas e graves.) Se as particulares estão aí a cada esquina, por que não optar por elas? A concorrência, inclusive, tem deixado as mensalidades a preços quase acessíveis. O que era difícil se tornou fácil.

Tão fácil que muitos estudantes perceberam cedo que poderiam ingressar em uma universidade antes mesmo de concluírem o ensino médio. Passar no vestibular, para muitos, não é mais sinônimo de pesadelo. O único problema é conseguir permissão para efetivar a matrícula, dado que o artigo 44, inciso II, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação exige a conclusão do ensino médio.

Dos males o menor. O mercado funciona assim: se surge um novo modelo de celular, surgirão, na seqüência, acessórios adequados ao seu formato até mesmo no mercado informal. Com as universidades particulares ocorre o mesmo: há quem ofereça aí um diploma de conclusão do ensino médio bem à mão. Mas há também quem entre na justiça para ter direito a freqüentar o curso. E muitos, infelizmente, têm conseguido.

Infelizmente. Parece que a urgência em cursar uma graduação tem a ver com o “fim” da vida escolar, do período de formação, o que é um equívoco. O bom profissional não se livrará nunca do estudo. Essa urgência desconsidera também que o que se estuda no ensino médio é fundamento que será exigido mais tarde. E não só em termos de conteúdo, mas de amadurecimento reflexivo, que preparará o indivíduo para lidar com questões cada vez mais complexas, exigidas nas diversas áreas do conhecimento.

Diante disso, a grande façanha do menino João Victor Portelinha de Oliveira, o famigerado “aluno” da UNIP, foi ter zombado da seriedade das instituições particulares. E, de quebra, ainda saiu dizendo que a prova foi fácil...



suene honorato