Anotações - Bananada 2007 - A noite de sexta-feira!

O fato de ter estilo pra todo mundo é uma maneira incontestável de abrigar a maior variedade de vozes rockers possíveis. Mas se engana quem acredita sentir a pulsão da molecada que produz o rock em todo canto do Bananada; isso se vê em menor escala e depende de um show fuderoso pra realizar seu ápice. Como um Mqn, Mechanics ou mesmo Violins. Portanto, nesse balaio aparece muito pastiche. E nós não queremos viver deles.
Começar a noite com Diego Moraes é uma boa resposta ao estigma de fechado que quiseram dar a Monstro. Diego é bom no que faz, e o que ele faz tem menos a ver com rock star e mais a ver com surrealismos-brazucas-infanto-miseráveis! O show foi bem jeitoso! Com variações que são medidas na idéia mesma de espetáculo. Diego contou com uma banda pra lá de competente, com um cabelo beatle, um engajamento politizado e não longe de clichês (é possível ser diferente disso? – uma pergunta eterna). Foi dançante, um baixo seven saturadão, e ele repete, na tônica do discurso “Não se irrite com meu hit!”. Ele quer aloprar e alopra!
Da caixa dos excluídos pra caixa dos inseridos! Vai lá Goldfish Memories! Depois da plebe os playbas! E nesse rumo o festival dá conta mesmo do que se propõe. Entramos na seara do que se consome sem dificuldades. E o nome da banda já diz tudo. Pra dizer a verdade, acho dispensável ver o show deles, mas admito, é um stoner inteligente, muito bem executado, redondíssimo. O batera toca muito, bate com gosto! Eles estão angariando reconhecimento – isso diz de um aspecto relevante, mas não do principal. Tem uns efeitos legais, simplórios e bem empregados. O que parece besta na banda é uma necessidade constante de ser aceita. Reforçada em cada gesto e em muitos acordes. Tá tudo legal, sem problemas.
Um cervejinha e vamos ver o Watson de Brasília. Lulu Santos no Bananada!? É quase bonitinho o pop desses brasilienses bem apessoados. Letras fáceis, vocal ruim, óbvio. Isso também tem seu valor, mas na boa... melhor se fosse cover. O acerto dessa banda é o baixo fisicamente bonito, chama atenção. Só.
BH tem bandas legais. O Monno é legal, mas é mono! Impecavelmente indie. Muito competente, o vocal é bem agradável e sem deslizes. O som tava reguladíssimo, uma olhada pra trás e percebi que o Iuri tava lá. Mais um ponto pra banda. Da tradição Valv, Monno é honesto. Mas é tão indie que o oclin, a camisa e as letras lamuriosas não escondem a pecha. Respeito, mas chora menos, porque o Violins já fez isso e hoje tá em outra e melhor.
Nunca acreditei nas bandas do Guga! Mas vô falar: Sangue Seco é massa! É do mal! Direto e tem coisas pra dizer, a partir das cenas dessa maldição, dos limites que querem transparecer. Eles são posudos e fazem um punk pra dizer das suas velharias e traumas. O vocal do senhor Mesquita é respeitoso, e eu, sinceramente, não acreditava. Ele canta que nem um demente e faz teatro-rock-discursivo-fodão! Achei bem digno. E o batera é notoriamente um principiante. Depois do show eu disse pro Guga que eles faziam só o que o Bocão dava conta, ele confirmou. Depende até onde ele vai, sacô!? A guitarra é cretina, finge que é mais do que é, isso é bom!
Esse negócio de ser repórter por um dia cansa! E vamô lá ver o Del-O-Max. Os paulistanos fazem um som pouco deglutível. Dois baixos, muito pedal neles. Precisara de mais que 30 minutos pra saber mesmo de qual é.
Os simpáticos componentes da Dimitri Pellz passaram antes na banca do Demo Cognítio com a Voodoo (que tava um sucesso com os feirantes Eliseu e Gabriela), deixaram um zine bem bonito e simples e falaram umas coisinhas da cena mato-grossense. Ao entrar no teatro, de cara achei que era um Wry do centro do Brasil em festa. Por conta da androginia do batera e da vocalista, que faziam bastante barulho comportado, tendo ao lado um tecladista setentista, destoante.
Nunca vi o Barfly no palco. Continuo sem ver. Nessa hora tomava uma cerveja e papeava feliz com o melhor papo da noite – Pierre, do Violins.

Devotos é fulminante. Rápido e potente, vocalista dread, feio que nem o Cartola, mistura de reggae e hardcore, engajado e direto numa cantata nordestina. Não gosto. Mas vô dizer: tem lugar em qualquer barulho que esse país puder fazer, está a serviço de um lugar de vida, e, não por isso simplesmente, mas pela rispidez discursiva assumida – mensagem musical.
Tem referências que são notórias. As do Coletivo Rádio Cipó estão assentadas no nordestismos, no mangue, no falado repentista. O batera é preciso e o vocal não esquece de Chico Science, e faz isso de megafone. O lance é o veiiin que dá o charme da banda; muito válido, mas a banda mesmo é normalzinha. Sem mais.
As outras vezes que vi o Shakemakers valeu mais a pena. No Noise do jóquei foi dos melhó, de impressionar! Agora como donos da noite tava meio desfigurado, com jogo ganho. Faltou luta. Força. É aquela veia Chuck Berry com Guns, numa cafajestice oitentista, liderada com responsa pelo Sandoval. Essas bandas precisam de potência, eu achei meio brocha.


Isso vai parar onde!? Essa resposta é por nossa conta!
texto: marcelo brice (um artista fracassado)
fotos: benedito braga e suene honorato